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sexta-feira, 25 de março de 2011

Fernando Pessoa

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.


Fernando António Nogueira Pessoa
Fernando António Nogueira Pessoa

Retrato de Fernando Pessoa em 1914
Nascimento 13 de Junho de 1888
Lisboa
Morte 30 de novembro de 1935 (47 anos)
Lisboa
Nacionalidade Portugal português(a)
Ocupação Poeta e escritor
Movimento literário Modernismo
Principais trabalhos Mensagem, Livro do Desassossego
Profissão Correspondente comercial e traduto


É considerado um dos maiores poetas da Língua Portuguesa, e da Literatura Universal, muitas vezes comparado com Luís de Camões. O crítico literário Harold Bloom considerou a sua obra um "legado da língua portuguesa ao mundo".[1]
Por ter crescido na África do Sul, para onde foi aos sete anos em virtude do casamento de sua mãe, Pessoa aprendeu a língua inglesa. Das quatro obras que publicou em vida, três são na língua inglesa. Fernando Pessoa dedicou-se também a traduções desse idioma.
Ao longo da vida trabalhou em várias firmas como correspondente comercial. Foi também empresário, editor, crítico literário, activista político, tradutor, jornalista, inventor, publicitário e publicista, ao mesmo tempo que produzia a sua obra literária. Como poeta, desdobrou-se em múltiplas personalidades conhecidas como heterónimos, objecto da maior parte dos estudos sobre sua vida e sua obra. Centro irradiador da heteronímia, auto-denominou-se um "drama em gente".
Fernando Pessoa morreu de cirrose hepática aos 47 anos, na cidade onde nasceu. Sua última frase foi escrita em Inglês: "I know not what tomorrow will bring… " ("Não sei o que o amanhã trará").

Biografia

Se depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
Não há nada mais simples.
Tem só duas datas - a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra todos os dias são meus. 
Fernando Pessoa/Alberto Caeiro; Poemas Inconjuntos; Escrito entre 1913-15; Publicado em Atena nº 5, Fevereiro de 1925

Primeiros anos em Lisboa


Foi neste prédio, frente ao Teatro Nacional de São Carlos, onde Fernando Pessoa nasceu em 13 de junho de 1888.
Às três horas e vinte minutos da tarde de 13 de Junho de 1888 nasce em Lisboa Fernando Pessoa. O parto ocorreu no quarto andar direito do n.º 4 do Largo de São Carlos, em frente à ópera de Lisboa (Teatro de São Carlos). De famílias da pequena aristocracia, pelos lados paterno e materno, o pai, Joaquim de Seabra Pessoa (38), natural de Lisboa, era funcionário público do Ministério da Justiça e crítico musical do «Diário de Notícias». A mãe, D. Maria Magdalena Pinheiro Nogueira Pessoa (26), era natural dos Açores (mais propriamente, da Ilha Terceira). Viviam com eles a avó Dionísia, doente mental, e duas criadas velhas, Joana e Emília. O poeta, pelo lado paterno, tem as suas raízes familiares no concelho de Arouca, nas freguesias do denominado «Fundo do Concelho» de Arouca. [2]. Fernando António foi baptizado em 21 de Julho na Basílica dos Mártires, ao Chiado, tendo por padrinhos a Tia Anica (D. Ana Luísa Pinheiro Nogueira, tia materna) e o General Chaby. A escolha do nome homenageia Santo António: a família reclamava uma ligação genealógica com Fernando de Bulhões, nome de baptismo de Santo António, tradicionalmente festejado em Lisboa a 13 de Junho, dia em que Fernando Pessoa nasceu. As suas infância e adolescência foram marcadas por factos que o influenciariam posteriormente. Às cinco horas da manhã de 24 de Julho de 1893, o pai morreu, com 43 anos, vítima de tuberculose. A morte foi anunciada no Diário de Notícias do dia. Fernando tinha apenas cinco anos. O irmão Jorge viria a falecer no ano seguinte, sem completar um ano. A mãe vê-se obrigada a leiloar parte da mobília e muda-se para uma casa mais modesta, o terceiro andar do n.º 104 da Rua de São Marçal.  
«Fernando Pessoa em flagrante delitro»: dedicatória na fotografia que ofereceu à namorada Ophélia Queiroz em 1929

Juventude em Durban

Em razão do casamento, viaja com a mãe para Durban, acompanhados por um tio-avô, Manuel Gualdino da Cunha, que voltaria para Lisboa no mês seguinte. Viajam no navio Funchal até à Madeira e depois no paquete Inglês Hawarden Castle até ao Cabo da Boa Esperança. Faz a instrução primária na escola de freiras irlandesas da West Street, onde fez a primeira comunhão, e percorre em dois anos o equivalente a quatro. Em 1899 ingressa no Liceu de Durban, onde permanecerá durante três anos e será um dos primeiros alunos da turma. No mesmo ano, cria o pseudónimo Alexander Search, através do qual envia cartas a si mesmo. No ano de 1901, é aprovado com distinção no primeiro exame Cape School High Examination e escreve os primeiros poemas em inglês. Na mesma altura, morre sua irmã Madalena Henriqueta, de dois anos. Em 1901 parte com a família para Portugal, para um ano de férias. No navio em que viajam, o paquete König, vem o corpo da irmã. Em Lisboa, mora com a família em Pedrouços e depois na Avenida de D. Carlos I, n.º 109, 3.º Esquerdo. Na capital portuguesa, nasce João Maria, quarto filho do segundo casamento da mãe de Pessoa. Viaja com a família à Ilha Terceira, nos Açores, onde vive a família materna. Deslocam-se também a Tavira para visitar os parentes paternos. Nessa época, escreve o poema Quando ela passa. Tendo de dividir a atenção da mãe com os filhos do casamento e com o padrasto, Pessoa isola-se, o que lhe propicia momentos de reflexão. Tendo recebido uma educação britânica, que lhe proporcionou um profundo contacto com a língua inglesa, os seus primeiros textos e estudos foram em inglês. Mantém contacto com a literatura inglesa através de autores como Shakespeare, Edgar Allan Poe, John Milton, Lord Byron, John Keats, Percy Shelley, Alfred Tennyson, entre outros. O Inglês teve grande destaque na sua vida, trabalhando com o idioma quando, mais tarde, se torna correspondente comercial em Lisboa, além de o utilizar em alguns dos seus textos e traduzir trabalhos de poetas ingleses, como O Corvo e Annabel Lee de Edgar Allan Poe. Com excepção de Mensagem, os únicos livros publicados em vida são os das colectâneas dos seus poemas ingleses: Antinous e 35 Sonnets e English Poems I - II e III, editados em Lisboa, em 1918 e 1921
    1. Volta definitiva a Portugal e início de carreira           
    2. O padrasto e a mãe.
    3. Pessoa aos seis anos.
    Deixando a família em Durban, regressa definitivamente à capital portuguesa, sozinho, em 1905. Passa a viver com a avó Dionísia e as duas tias na Rua da Bela Vista, n.º 17. A mãe e o padrasto regressam também a Lisboa, durante um período de férias de um ano em que Pessoa volta a morar com eles. Continua a produção de poemas em inglês e, em 1906, matricula-se no Curso Superior de Letras (actual Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa), que abandona sem sequer completar o primeiro ano. É nesta época que entra em contacto com importantes escritores portugueses. Interessa-se pela obra de Cesário Verde e pelos sermões do Padre António Vieira. Em Agosto de 1907, morre a sua avó Dionísia, deixando-lhe uma pequena herança, com a qual monta uma pequena tipografia, na Rua da Conceição da Glória, 38-4.º, sob o nome de «Empreza Ibis — Typographica e Editora — Officinas a Vapor», que rapidamente faliu. A partir de 1908, dedica-se à tradução de correspondência comercial, uma actividade a que poderíamos dar o nome de "correspondente estrangeiro". Nessa profissão trabalha a vida toda, tendo uma modesta vida pública. 
      Retratado por João L. Roth

      Legado

      Pode-se dizer que a vida do poeta foi dedicada a criar e que, de tanto criar, criou outras vidas através dos seus heterónimos, o que foi a sua principal característica e motivo de interesse pela sua pessoa, aparentemente muito pacata. Alguns críticos questionam se Pessoa realmente teria transparecido o seu verdadeiro eu ou se tudo não teria passado de um produto, entre tantos, da sua vasta criação. Ao tratar de temas subjectivos e usar a heteronímiatorna-se enigmático ao extremo. Este fato é o que move grande parte das buscas para estudar a sua obra. O poeta e crítico brasileiro Frederico Barbosa declara que Fernando Pessoa foi "o enigma em pessoa" Escreveu sempre, desde o primeiro poema aos sete anos, até ao leito de morte. Importava-se com a intelectualidade do homem, e pode-se dizer que a sua vida foi uma constante divulgação da língua portuguesa: nas próprias palavras do heterónimo Bernardo Soares, "a minha pátria (sic) é a língua portuguesa". O mesmo empenho é patente no seguinte poema:
      Cquote1.svg Tenho o dever de me fechar em casa no meu espírito e trabalhar quanto possa e em tudo quanto possa, para o progresso da
      civilização e o alargamento da consciência da humanidade
      Cquote2.svg 
                                            .

       O espólio de Pessoa: a célebre arca, contendo mais de 25000 páginas, e a «biblioteca inglesa».

           

      O mago Aleister Crowley e Pessoa em Lisboa,
      em Setembro de 1930.

      Pessoa e o ocultismo

       Fernando Pessoa interessava-se pelo ocultismo e pelo misticismo, com destaque para a Maçonaria e a Rosa-Cruz (embora não se lhe conheça qualquer filiação concreta em Loja ou Fraternidade dessas escolas de pensamento), havendo inclusive defendido publicamente as organizações iniciáticas no Diário de Lisboa (4 de Fevereiro de 1935), contra ataques por parte da ditadura do Estado Novo. O seu poema hermético mais conhecido e apreciado entre os estudantes de esoterismo intitula-se "No Túmulo de Christian Rosenkreutz". Tinha o hábito de fazer consultas astrológicas para si mesmo (de acordo com a sua certidão de nascimento, nasceu às 15h20, tinha ascendente Escorpião e o Sol em Gémeos).[6] Realizou mais de mil horóscopos.


      Última residência do poeta, actual Casa Fernando Pessoa.

      Obra poética


      Retrato simplificado de Fernando Pessoa. Esboço de Cristiano Sardinha.
      O poeta é um fingidor.
      Finge tão completamente
      Que chega a fingir que é dor
      A dor que deveras sente.
      Fernando Pessoa; Autopsicografia; 27 de Novembro de 1930 (1ª publ. in Presença, nº 36. Coimbra: Nov. 1932.)
      Considera-se que a grande criação estética de Pessoa foi a invenção heteronímica que atravessa toda a sua obra. Os heterónimos, diferentemente dos pseudónimos, são personalidades poéticas completas: identidades que, em princípio falsas, se tornam verdadeiras através da sua manifestação artística própria e diversa do autor original. Entre os heterónimos, o próprio Fernando Pessoa passou a ser chamado ortónimo, porquanto era a personalidade original. Entretanto, com o amadurecimento de cada uma das outras personalidades, o próprio ortónimo tornou-se apenas mais um heterónimo entre os outros. Os três heterónimos mais conhecidos (e também aqueles com maior obra poética) foram Álvaro de Campos, Ricardo Reis e Alberto Caeiro. Um quarto heterónimo de grande importância na obra de Pessoa é Bernardo Soares, autor do Livro do Desassossego, importante obra literária do século XX. Bernardo é considerado um semi-heterónimo por ter muitas semelhanças com Fernando Pessoa e não possuir uma personalidade muito característica, ao contrário dos três primeiros, que possuem até mesmo data de nascimento e morte (excepção para Ricardo Reis, que não possui data de falecimento). Por essa razão, José Saramago, laureado com o Prémio Nobel, escreveu o livro O ano da morte de Ricardo Reis.
      Através dos heterónimos, Pessoa conduziu uma profunda reflexão sobre a relação entre verdade, existência e identidade. Este último factor possui grande notabilidade na famosa misteriosidade do poeta.


      Cquote1.png Com uma tal falta de gente coexistível, como há hoje, que pode um homem de sensibilidade fazer senão inventar os seus amigos, ou quando menos, os seus companheiros de espírito? Cquote2.png
      Entre pseudónimos, heterónimos, semi-heterónimos, personagens fictícias e poetas mediúnicos, contam-se 72 nomes




      Estátua de Fernando Pessoa da autoria de Lagoa Henriques, no café A Brasileira, no Chiado, Lisboa


      A obra ortónima de Pessoa passou por diferentes fases, mas envolve basicamente a procura de um certo patriotismo perdido, através de uma atitude sebastianista reinventada. O ortónimo foi profundamente influenciado, em vários momentos, por doutrinas religiosas (como a teosofia) e sociedades secretas (como a Maçonaria). A poesia resultante tem um certo ar mítico, heróico (quase épico, mas não na acepção original do termo) e por vezes trágico. Pessoa é um poeta universal, na medida em que nos foi dando, mesmo com contradições, uma visão simultaneamente múltipla e unitária da vida. Uma explicação para a criação dos três principais heterónimos e o semi-heterónimo Bernardo Soares, reside nas várias formas que tinha de olhar o mundo, apoiando-se no racionalismo e pensamento oriental





      Mensagem, de Fernando Pessoa, 1ª ed., 1934.


      O ortónimo é considerado, só por si, como simbolista e modernista pela evanescência, indefinição e insatisfação, bem como pela inovação praticada através de diversas sendas de formulação do discurso poético (sensacionalismo, paulismo, interseccionismo, etc.).[14]
      Fernando Pessoa foi marcado também pela poesia musical e subjectiva, voltada essencialmente para a metalinguagem e os temas relativos a Portugal, como o sebastianismo presente na principal obra de "Pessoa ele-mesmo", Mensagem, uma colectânea de poemas sobre as grandes personagens históricos portugueses. Publicado em 1934, apenas um ano antes da morte do autor, este foi o único livro de Fernando Pessoa em Língua Portuguesa editado em vida. Foi contemplado com o Prémio Antero de Quental, na categoria de «poema ou poesia solta», do Secretariado da Propaganda Nacional (SPN).


       Heterónimos

       Álvaro de Campos


      Entre todos os 
      heterónimos, Campos foi o único a manifestar fases poéticas diferentes ao longo da sua obra. Era um engenheiro de educação inglesa e origem portuguesa, mas sempre com a sensação de ser um estrangeiro em qualquer parte do mundo
    1. .
      Começa a sua trajetória como um decadentista (influenciado pelo simbolismo), mas logo adere ao futurismo. Após uma série de desilusões com a existência, assume uma veia niilista, expressa naquele que é considerado um dos poemas mais conhecidos e influentes da língua portuguesa, Tabacaria.  É revoltado e crítico e faz a apologia da velocidade e da vida moderna, com uma linguagem livre, radical.

       Ricardo Reis

      Segundo Pessoa, Reis mudou-se para o Brasil em protesto à proclamação da República em Portugal e não se sabe o ano da sua morte.
      Em O ano da morte de Ricardo Reis, José Saramago continua, numa perspectiva pessoal, o universo deste heterónimo após a morte de Fernando Pessoa, cujo fantasma estabelece um diálogo com o seu heterónimo, sobrevivente ao criador.

      Alberto Caeiro

      Por sua vez, Caeiro, nascido em Lisboa, teria vivido quase toda a vida como camponês, quase sem estudos formais. Teve apenas a instrução primária, mas é considerado o mestre entre os heterônimos (pelo ortônimo). Após a morte do pai e da mãe, permaneceu em casa com uma tia-avó, vivendo de modestos rendimentos. Morreu de tuberculose. Também é conhecido como o poeta-filósofo, mas rejeitava este título e pregava uma "não-filosofia". Acreditava que os seres simplesmente são, e nada mais: irritava-se com a metafísica e qualquer tipo de simbologia para a vida.
      Nos escritos pessoanos que versam sobre a caracterização dos heterônimos, Pessoa, dito "ele mesmo", assim como a Álvaro de Campos, Ricardo Reis e o meio-heterônimo Bernardo Soares, conferem a Alberto Caeiro um papel quase místico enquanto poeta e pensador. Reis e Soares chegam a compará-lo ao deus Pã, e Pessoa esboça-lhe um horóscopo no qual lhe atribui o signo de leão, associado ao elemento fogo. A relevância destas alusões se esclarece na explicação de Fernando Pessoa sobre o papel de Caeiro no escopo da heteronímia. Citando a atuação dos quatro elementos da astrologia sobre a personalidade dos indivíduos, Pessoa escreve:
      "Uns agem sobre os homens como o fogo, que queima nele todo o acidental, e os deixa nus e reais, próprios e verídicos, e esses são os libertadores. Caeiro é dessa raça. Caeiro teve essa força."
      Dos principais heterônimos de Fernando Pessoa, Caeiro foi o único a não escrever em prosa. Alegava que somente a poesia seria capaz de dar conta da realidade.
      Possuía uma linguagem estética direta, concreta e simples mas, ainda assim, bastante complexa do ponto de vista reflexivo. O seu ideário resume-se no verso Há metafísica bastante em não pensar em nada. A sua obra está agrupada na coletânea Poemas Completos de Alberto Caeiro.



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      Alberto Caeiro, pormenor do mural de Almada Negreiros na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (1958).

      Pretenso mestre dos outros heterónimos e do poeta ortónimo, Caeiro pretende surgir-nos como um homem de visão ingénua, instintiva, gostosamente entregue à infinita variedade do espectáculo das sensações, principalmente visuais, por hipótese desfrutáveis por um rural clássico reinventado. Em teoria, Caeiro defende que o real é a própria exterioridade, que não carece de subjectivismos. Proclama-se antimetafísico, é contra a interpretação do real pela inteligência porque, no seu entender, essa interpretação reduz as coisas a simples conceitos. Caeiro é fácil de reconhecer por um certo objectivismo visualista que faz lembrar Cesário Verde, pelo interesse pela Natureza, pelo ritmo lento. (in Edições Sebenta)


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      Ficções do Interlúdio
      (poemas completos de Alberto Caeiro)
       



        Eu Nunca Guardei Rebanhos
                           Eu nunca guardei rebanhos,
                           Mas é como se os guardasse.
                           Minha alma é como um pastor,
                           Conhece o vento e o sol
                           E anda pela mão das Estações
                           A seguir e a olhar.
                           Toda a paz da Natureza sem gente
                           Vem sentar-se a meu lado.
                           Mas eu fico triste como um pôr de sol
                           Para a nossa imaginação,
                           Quando esfria no fundo da planície
                           E se sente a noite entrada
                           Como uma borboleta pela janela.
                           Mas a minha tristeza é sossego
                           Porque é natural e justa
                           E é o que deve estar na alma
                           Quando já pensa que existe
                           E as mãos colhem flores sem ela dar por isso.
                           Como um ruído de chocalhos
                           Para além da curva da estrada,
                           Os meus pensamentos são contentes.
                           Só tenho pena de saber que eles são contentes,
                           Porque, se o não soubesse,
                           Em vez de serem contentes e tristes,
                           Seriam alegres e contentes.
                           Pensar incomoda como andar à chuva
                           Quando o vento cresce e parece que chove mais.
                           Não tenho ambições nem desejos
                           Ser poeta não é uma ambição minha
                           É a minha maneira de estar sozinho.
                           E se desejo às vezes
                           Por imaginar, ser cordeirinho
                           (Ou ser o rebanho todo
                           Para andar espalhado por toda a encosta
                           A ser muita cousa feliz ao mesmo tempo),
                           É só porque sinto o que escrevo ao pôr do sol,
                           Ou quando uma nuvem passa a mão por cima da luz
                           E corre um silêncio pela erva fora.
                           Quando me sento a escrever versos
                           Ou, passeando pelos caminhos ou pelos atalhos,
                           Escrevo versos num papel que está no meu pensamento,
                           Sinto um cajado nas mãos
                           E vejo um recorte de mim
                           No cimo dum outeiro,
                           Olhando para o meu rebanho e vendo as minhas idéias,
                           Ou olhando para as minhas idéias e vendo o meu rebanho,
                           E sorrindo vagamente como quem não compreende o que se diz
                           E quer fingir que compreende.
                           Saúdo todos os que me lerem,
                           Tirando-lhes o chapéu largo
                           Quando me vêem à minha porta
                           Mal a diligência levanta no cimo do outeiro.
                           Saúdo-os e desejo-lhes sol,
                           E chuva, quando a chuva é precisa,
                           E que as suas casas tenham
                           Ao pé duma janela aberta
                           Uma cadeira predileta
                           Onde se sentem, lendo os meus versos.
                           E ao lerem os meus versos pensem
                           Que sou qualquer cousa natural —
                           Por exemplo, a árvore antiga
                           À sombra da qual quando crianças
                           Se sentavam com um baque, cansados de brincar,
                           E limpavam o suor da testa quente
                           Com a manga do bibe riscado.








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    quinta-feira, 24 de março de 2011

    Barroco e poesia arcádica


    Marquesa de Alorna: representante da Arcádia Lusitana

    O século do Romantismo

    O século XIX trouxe consigo alguns dos maiores vultos da poesia portuguesa. Ainda que não tivesse sido pródigo na quantidade, este foi o século de Almeida Garrett, Antero de Quental, Gomes Leal, António Nobre, João de Deus, Cesário Verde, Guerra Junqueiro...

    [editar] Século XX

    O século XX, no entanto, é, segundo as palavras de um dos grandes poetas contemporâneos (Eugénio de Andrade), o século de ouro da poesia portuguesa. A quantidade e qualidade é, realmente, assombrosa. Destacam-se Florbela Espanca, Teixeira de Pascoais, Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Almada Negreiros, Camilo Pessanha, António Botto, Afonso Duarte, Irene Lisboa, Edmundo de Bettencourt, Vitorino Nemésio, José Régio, Saúl Dias, António Gedeão, Miguel Torga, Sophia de Mello Breyner Andresen, Jorge de Sena, Carlos de Oliveira, Natália Correia, Mário Cesariny, Alexandre O'Neill, António Ramos Rosa, Albano Martins, David Mourão-Ferreira, António Manuel Couto Viana, Alberto de Lacerda, António Maria Lisboa, Fernando Echevarria, Rui Knopfli, Ruy Belo, João Pedro Grabato Dias, António Osório, Liberto Cruz, José Carlos Ary dos Santos, Manuel Alegre, Fernando Assis Pacheco, Luiza Neto Jorge, Vasco Graça Moura, João Miguel Fernandes Jorge, Joaquim Manuel de Magalhães, António Franco Alexandre, Carlos Eurico da Costa, Nuno Júdice, Al Berto, Luís Filipe Castro Mendes, Adília Lopes, Ana Hatherly, Herberto Helder, Luís Miguel Nava, António Franco Alexandre, Daniel Faria , Casimiro de Brito, Gastão Cruz, Pedro Sena-Lino, José Carlos González, Natercia Freire
    Ícone de esboçoÍcone de esboço Este artigo sobre Literatura portuguesa é um esboço. Você pode ajudar a Wikipédia expandindo-o.Origem: wikipédia  a enciclopédia livre.

    Renascimento

    Os poetas portugueses representados no Cancioneiro de Garcia de Resende demonstram algum conhecimento de outras poéticas: Dante Alighieri, Petrarca, Juan de Mena, Marquês de Santillana, além de autores do classicismo romano.
    Gil Vicente e Francisco de Sá de Miranda marcam, na poesia, o início do Renascimento em Portugal, onde também se destaca António Ferreira.
    Luís Vaz de Camões é, contudo, o vulto maior da poesia portuguesa. Os Lusíadas, 1572 é o poema nacional por excelência. Não se deve, porém, esquecer a sua poesia lírica, a todos os níveis incomparável, reunida nas Rimas, postuamente, em 1595.
    É com Camões que se faz, também, a nível de estilo e conteúdo, passagem para o Maneirismo, de uma poesia melancólica e de profundo questionamento existencial que já se verifica em Camões (onde a temática do exílio, na sua lírica, e a crítica aos aspectos menos heróicos de Portugal, como o "gosto d'hua austera, apagada e vil tristeza", n'Os Lusíadas, já faz entrever). Diogo Bernardes, Vasco Mouzinho de Quevedo, Baltasar Estaço, D. Manuel de Portugal, Sá de Miranda e Francisco Rodrigues Lobo são alguns dos nomes mais importantes deste período que irá desembocar no Barroco.
    Luis de Góngora, na Espanha, a par com Francisco de Quevedo, é o modelo a imitar, no que diz respeito à poesia Barroca. Os poetas portugueses da altura, como Jerónimo Baía, Barbosa Bacelar e D. Tomás de Noronha (entre muitos anónimos), sem o mesmo brilho dos mestres espanhóis, glosam, então, num virtuosismo formal intrincado, os temas da Morte, e da inconstância da Sorte e da Fortuna, transmitindo um sentimento que marcava, também, a religião na Península Ibérica, na altura.

    Poesia na Idade Média Cristã

    Trovadores: imagem do Cancioneiro da Ajuda, século XIII
    Com a Reconquista Cristã e a fundação da nacionalidade, inicia-se a época da poesia galaico-portuguesa. As cantigas de amigo; as cantigas de amor e as cantigas de escárnio e maldizer, foram compiladas em antologias da época, manuscritas, a que se deu o nome de Cancioneiros. Podemos fazer referência a alguns dos mais importantes:
    O trovadores e jograis (feminino: jogralesas) cultivaram ainda outros géneros poéticos, como as tenções, as cantigas de seguir, as cantigas de vilão, as pastorelas, os prantos, os descordos, os lais.
    Existe uma época da história desta poesia, considerada como uma idade de ouro, que compreende um período afonsino (de 1240 a 1280), com os reinados de Afonso X de Castela (autor das Cantigas de Santa Maria) e de Afonso III de Portugal. Segue-se o período dionisíaco, com o reinado de D. Dinis (filho de Afonso III). O seu filho bastardo, Dom Pedro, Conde de Barcelos (que morre em 1354), autor de algumas cantigas que encerram um período de florescimento poético

    domingo, 20 de março de 2011

    Poesia de Portugal

    Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
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    Flag of Portugal.svg Série de artigos sobre
    Cultura de Portugal
    Cancioneiro ajuda.jpg
    Literatura
    Arquitectura
    Pintura
    Escultura
    Música
    Teatro
    Dança
    Cinema
    Cultura popular
    Desporto
    A poesia portuguesa tem raízes recuadas, ainda antes da afirmação da nacionalidade.

    Índice

    [esconder]

    [editar] Poesia arábica em território nacional

    Entre os árabes, enquanto estes povoavam o território que mais tarde viria a ser Portugal, encontramos um punhado de poetas de grande valor, o que era constante, aliás, na civilização islâmica da altura, muito dedicada à poesia. Al-Mu'tamid (rei do Taifa de Sevilha), Ibn Bassam (em Santarém, na altura chamada Xantarim), Ibn'Amar e Ibn Harbun (de Silves) são alguns exemplos.

    quinta-feira, 17 de março de 2011

    POESIA


    Pálida inocência






    Por que, pálida inocência,
    Os olhos teus em dormência
    A medo lanças em mim?
    No aperto de minha mão
    Que sonho do coração
    Tremeu-te os seios assim?
     

    E tuas falas divinas
    Em que amor lânguida afinas
    Em que lânguido sonhar?
    E dormindo sem receio
    Por que geme no teu seio
    Ansioso suspirar? Inocência!
     

    Quem dissera
    De tua azul primavera
    As tuas brisas de amor!
    Oh! Quem teus lábios sentira
    E que trêmulo te abrira
    Dos sonhos a tua flor!
     

    Quem te dera a esperança
    De tua alma de criança,
    Que perfuma teu dormir!
    Quem dos sonhos te acordasse,
    Que num beijo t'embalasse
    Desmaiada no sentir!
     

    Quem te amasse! E um momento
    Respirando o teu alento
    Recendesse os lábios seus!
    Quem lera, divina e bela,
    Teu romance de donzela
    Cheio de amor e de Deus!
     Álvares de Azevedo

    Álvares de Azevado

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    Álvares de Azevedo Academia Brasileira de Letras
    Álvares de Azevedo
    Nome completo Manuel Antônio Álvares de Azevedo
    Nascimento 12 de setembro de 1831
    São Paulo
    Morte 25 de abril de 1852 (20 anos)
    Rio de Janeiro
    Nacionalidade Brasileiro
    Progenitores Mãe: Maria Luísa Mota Azevedo
    Pai: Inácio Manuel Álvares de Azevedo
    Ocupação Escritor, contista e poeta
    Escola/tradição Romantismo
    Manuel Antônio Álvares de Azevedo (São Paulo, 12 de setembro de 1831Rio de Janeiro, 25 de abril de 1852) foi um escritor da segunda geração romântica (Ultra-Romântica, Byroniana ou Mal-do-século), contista, dramaturgo, poeta e ensaísta brasileiro, autor de Noite na Taverna.

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