-
-
Capa da edição original de Paixão Segundo G.H.
Em dezembro de
1943, publicou seu primeiro romance,
Perto do coração selvagem. Escrito quando tinha 19 anos, o livro apresenta Joana como protagonista, a qual narra sua história em dois planos: a infância e o início da vida adulta. A
literatura brasileira era nesta altura dominada por uma tendência essencialmente
regionalista, com personagens contando as dificuldades da realidade social do país na época.
Clarice Lispector surpreendeu a crítica com seu romance, seja pela problemática de caráter
existencial, completamente inovadora, seja pelo estilo solto,
elíptico e fragmentário. Este estilo de escrita se tornou marca característica da autora, como pode ser observado em seus trabalhos subsequentes.
Na época da publicação, muitos associaram o seu estilo literário introspectivo a
Virginia Woolf ou
James Joyce, embora ela afirme não ter lido nenhum destes autores antes de ter escrito seu romance inaugural.
[2] A epígrafe de Joyce e o título, inspirado em citação do livro de Joyce
Retrato do Artista quando Jovem, foram sugeridos por
Lúcio Cardoso após o livro ter sido escrito.
Perto do coração selvagem ganhou o prêmio da
Fundação Graça Aranha de melhor romance de estréia, em outubro de
1944.
[1]
A obra de
Clarice ultrapassa qualquer tentativa de classificação. A escritora e filósofa francesa
Hélène Cixous vai ao ponto de dizer que há uma literatura brasileira A.C. (Antes da
Clarice) e D.C. (Depois da
Clarice).
Além de escritora,
Clarice foi colunista do Jornal do Brasil, do Correio da Manhã e Diário da Noite. As colunas, que foram publicadas entre as décadas de 60 e 70, eram destinadas ao público feminino, e abordavam assuntos como dicas de beleza, moda e comportamento. Em meados de 1970,
Lispector começou a trabalhar no livro
Um sopro de vida: pulsações, publicado postumamente. Este livro consiste de uma série de diálogos entre o "autor" e sua criação, Angela Pralini, personagem cujo nome foi emprestado de outro personagem de um conto publicado em
Onde estivestes de noite. Esta abordagem fragmentada foi novamente utilizada no seu penúltimo e, talvez, mais famoso romance,
A hora da estrela. No romance,
Clarice conta a história de
Macabéa, uma
datilógrafa criada no estado de
Alagoas que migra para o
Rio de Janeiro e vai morar em uma pensão, tendo sua rotina narrada por um escritor fictício chamado Rodrigo S.M. O livro descreve a pobreza e a marginalização no Brasil, temática que pouco aparece ao longo da sua obra. A história de Macabéa foi publicada poucos meses antes da morte de
Clarice.